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A montanha-russa do mercado de exportações de produtos de pinus

Setembro 30, 2019
Author: Marcelo Schmid

A atividade florestal é sabidamente uma atividade de longo prazo. Se faz necessário esperar anos para (literalmente) colher os frutos do que foi plantado. O mercado de base florestal, por outro lado, possui uma dinâmica diferente uma vez que as variáveis que o regem são mais numerosas e mais voláteis. Há um ano, nos meses de agosto e setembro de 2018, a Forest2Market do Brasil publicou dois artigos de análise da tendência de exportações de compensado e madeira serrada, destacando um momento positivo de mercado e os fatores que estavam impulsionando o aumento das exportações.

Em maio de 2019, uma nova análise da equipe da Forest2Market do Brasil, desta vez focada em exportação de compensados de pinus, destacou uma queda de 31% no volume exportado nos meses de março e abril de 2019. Essa queda foi resultado do efeito das condições climáticas sobre a duração da temporada de construções nos Estados Unidos, que levou à redução da demanda pelo produto brasileiro. O mesmo artigo previa que no último trimestre do ano essa situação deveria mudar, como resultado da retomada das construções.

Recentemente, em agosto de 2019, em artigo escrito pela equipe da Forest2Market nos Estados Unidos, destacou-se que o mercado da construção civil norte-americano (grande driver da exportação de produtos madeireiros brasileiros) teve o melhor desempenho mensal desde 2007, confirmando a previsão do artigo anterior. A recuperação parece o início de uma temporada de construção tardia, que traz esperança de um fim de ano positivo ao mercado de construção norte-americano.

Será que essa esperança poderá ser também dividida com os produtores de madeira serrada e compensado de pinus no Brasil?

A situação atual das exportações do mercado de compensados de pinus tem preocupado bastante a indústria brasileira. Conforme destacado nos artigos anteriores, a tendência da exportação entre 2011 e 2018 foi crescente, porém, para alcançar o volume exportado em 2018, o Brasil teria que exportar mais de 105 mil toneladas por mês até o fim do ano, sendo que nos últimos três meses (junho, julho e agosto) a média mensal de exportação foi de 82 mil toneladas. conforme apresenta a figura 01.

 

Figura 01. Evolução anual da exportação de compensados de pinus brasileiro

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*Até o mês de agosto

Fonte: Comex, adaptado por Forest2Market do Brasil

 

Após um excelente mês de maio, as exportações entre junho e agosto ficaram 21% abaixo do mesmo período de 2018, conforme demonstra a figura 02. A expectativa para o fechamento de 2019 não é positiva, provavelmente será o primeiro ano de retração desde 2011.

 

Figura 02. Comparação mensal do volume de compensados de pinus exportado em 2018 e 2019

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Fonte: Comex, adaptado por Forest2Market do Brasil

 

No caso da madeira serrada o caminho parece ser o mesmo. Para alcançar o volume exportado em 2018, o Brasil teria que exportar mais de 97 mil toneladas por mês até o fim do ano, sendo que nos últimos três meses a média mensal foi de 94 mil toneladas, conforme apresenta a figura 03.

 

Figura 03. Evolução anual da exportação de madeira serrada de pinus pelo Brasil

Brazil_Pine_3

*Até o mês de agosto

Fonte: Comex, adaptado por Forest2Market do Brasil

 

Embora o saldo da comparação das exportações de 2019 com 2018 ainda seja positivo (aumento de 9% até então), o ritmo vem caindo desde junho, sendo que no mês de agosto/2019 o Brasil exportou 20% a menos que o mesmo mês em 2018, conforme demonstra a figura 04.

 

Figura 04. Comparação mensal do volume de madeira serrada de pinus exportado em 2018 e 2019

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Fonte: Comex, adaptado por Forest2Market do Brasil

 

Problemas no mercado global afetam o futuro

Embora o mercado norte-americano seja um importante driver das exportações de produtos de pinus pelo Brasil, problemas em outros mercados irão afetar a retomada das exportações brasileiras no curto prazo. Desde meados de 2018, milhões de metros cúbicos de madeira serrada e toras oriundos de países do centro europeu têm inundado o mercado, como resultado do corte prematuro de florestas danificadas por fenômenos climáticos e fitopatológicos. Até o mês de agosto, a Alemanha, um dos principais países afetados, havia exportado mais de 1,3 milhões de toneladas de toras de coníferas para a China (o Brasil exportou 19 mil toneladas de toras de pinus durante todo ano de 2018).

O fenômeno observado na Europa não é pontual e parece ter aumentado nos últimos anos gradativamente. Não é possível prever por quanto tempo esta madeira afetará as relações de oferta e demanda no mercado global, porém acredita-se que pelo menos 2-3 anos.

 

Enquanto isso, nos Estados Unidos...

Voltando aos Estado Unidos, uma nova preocupação aos produtores brasileiros surgiu neste momento que poderia ser de recuperação das exportações brasileiras: um grupo de dez produtores de compensado norte-americanos entrou com uma ação na justiça alegando que os compensados brasileiros possuem defeito devido à “uma falha generalizada no controle de qualidade”, destacando ainda ser a competição de preços injusta, fazendo com que muitos produtores norte-americanos operassem com prejuízo, desde setembro de 2017.

A ação tem como réus as agências que atestaram e certificaram a conformidade do compensado brasileiro (à norma americana PS 1-09) e dezenas de empresas brasileiras, todas dos estados do Paraná e Santa Catarina. Os autores da ação alegam que o compensado brasileiro enviado para os Estados Unidos falhou em 75 a 100% das vezes em que foi testado durante os anos de 2018 e 2019.

As certificadoras e algumas das empresas envolvidas se pronunciaram alegando que o Brasil exporta compensados de alta qualidade há cerca de 20 anos para os Estados Unidos e que a alegação da ação judicial não é verdadeira. Porém, mesmo não havendo plausibilidade na ação judicial, é provável que o fato possa vir a trazer algum dano à imagem da indústria brasileira pela sua própria repercussão, dano esse que viria justamente em um momento em que os produtores de compensado no Brasil vislumbram uma sonhada recuperação do mercado externo.

 

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